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As substâncias mais fedorentas da natureza
Este texto foi publicado originalmente na excelente página do Facebook "Química Analítica Qualitativa Inorgânica UFRJ" (https://www.facebook.com/QualitativaInorgUfrj/)

Assim como a visão, o olfato foi um dos sentidos mais usados no passado para identificar substâncias desconhecidas, particularmente aquelas voláteis e gasosas. Assim, muito da descrição dos odores de produtos químicos data desta época. Hoje, com a moderna metodologia de ensino de Química Analítica, é totalmente desaconselhável cheirar de forma intencional substâncias, as quais podem ser tóxicas e danosas à saúde. Só se admite cheirar de forma incidental um vapor ou gás usando a técnica de abanar com a mão o ar acima do dispositivo em que o produto a ser analisado se acha presente, numa capela. Se a substância volátil for desconhecida, não faça a percepção do cheiro nem mesmo dessa maneira.

Na natureza, muitas substâncias com mau cheiro característico aparecem em determinadas circunstâncias, como descrevemos a seguir:

- Aminas orgânicas voláteis como metilamina, etilamina etc. Estas dão o odor característico de peixes em decomposição, principalmente notado após mortandade de peixes em lagos ou rios. A principal substância responsável pelo odor dos peixes podres é a trimetilamina, (CH3)3N.

- Cadaverina (1,5-diaminopentano). Esta diamina, juntamente com a sua colega putrescina (1,4-diaminobutano) é a responsável pelo cheiro de cadáveres em decomposição.

- Sulfeto de hidrogênio (H2S) – caracteriza o cheiro de ovos podres devido à decomposição anaeróbica (em ausência de oxigênio) da albumina, a principal proteína do ovo, rica em aminoácidos sulfurados (cisteína, metionina). Felizmente, quando se percebe o cheiro do H2S, estamos ainda longe de sua concentração fatal (~10 mg/m3 ar). Você sabia que ovo podre é iguaria na China? E que odor do peido (nome pomposo – flautulência) é em grande parte devido ao H2S (também respondem pelo odor metano e tióis)?

- Seleneto de hidrogênio (H2Se) – tem cheiro de rabanete podre, sendo mais nauseabundo (e mais tóxico – dose fatal 1,5 mg/m3 ar) que o H2S. Não reclame disso, pelo menos já sabe que rabanete (fresco) é uma boa fonte natural deste oligoelemento em nossa dieta.

- Ácido butírico (butanoico) – responsável pelo odor desagradável da manteiga rançosa. É formado após a ação de microorganismos sobre moléculas de gordura (triglicerídeos) presentes nesse alimento. Não nos esqueçamos de seus colegas ácidos capróico (hexanoico), caprílico (octanoico) e cáprico (decanoico), responsáveis pelo odor tão pouco sociável das cabras.

- Tióis de baixa massa molecular. Tióis são os análogos dos álcoois em que o oxigênio é substituído pelo enxofre. Os mais voláteis (metanotiol, CH3SH, etanotiol, C2H5SH etc.) tem aquele odor particularmente terrível, sendo o responsável pelo cheiro oriundo do demônio da Tasmânia, gambá e outros animais que liberam uma secreção defensiva quando ameaçados por predadores; esta secreção contém tióis, que se cair nos olhos pode mesmo cegar o oponente.

Não pense que todo cheiro ruim advém de coisa ruim. Por exemplo, o gás liquefeito de petróleo (GLP) é odorizado com tióis em concentração controlada para que seja detectado um vazamento de gás no botijão ou na mangueira que leva ao fogão. Embora não exista uma regra rígida, é comum que compostos orgânicos de nitrogênio, enxofre e bromo têm mau cheiro.

Veja mais acessando http://cienciasetecnologia.com/quimica-dos-fedores-mal-cheiro-quimica/.
Substâncias fedorentas
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