
Radioatividade em Produtos do Século XX
As figuras e o texto (adaptado) foram retirados do artigo http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc33_2/04-HQ10509.pdf

“Radio e Beleza”, propaganda de produtos radioativos de beleza para mulheres, prometendo felicidade e satisfação às consumidoras. Reproduzido sob permissão de Duke University, copyright ©1918.
Em 1904, em Los Angeles, um jornal local publicava em sua 1ª página: “Um empresário apareceu em Los Angeles com certificados de minas com a garantia de produção do novo metal [rádio] que simplesmente eletrizou o mundo deste início de século, e parece valer a soma inacreditavelmente fabulosa de US$ 2.000.000,00 o grama!”. Para a exploração das minas, era preciso recrutar muita mão-de-obra, atraída por promessas de ganhos fáceis e um futuro tranquilo. Os anúncios de recrutamento de mineiros realçavam o rádio como o “elemento do futuro”.
O grande interesse suscitado pela radioatividade levou ao aparecimento de “teorias” que visavam justificar a aplicação de terapias e a oferta dos mais diversos produtos com radioatividade adicionada, prometendo ao consumidor a satisfação de “haurir proveito da nova maravilha da ciência”. As aplicações se baseavam nos efeitos fisiológicos dos materiais radioativos ou se valiam dos efeitos terapêuticos (como no tratamento dos tumores). Talvez a maneira que mais simbolizou essa prática eram os anúncios entusiásticos sobre a eficácia terapêutica do rádio, qualificando-o como uma “solução mágica da medicina” com inacreditáveis poderes curativos, capaz de “restaurar a saúde a milhares de pessoas”. Trata-se de um dos grandes fenômenos mercadológicos das três primeiras décadas do século XX na Europa e nos Estados Unidos.
Em 1903, Joseph John Thompson (1856-1940) escreveu um artigo na revista Nature, relatando a presença de radioatividade em águas minerais medicinais. Essa radioatividade provinha do radônio, gerado pela decomposição do rádio presente nas rochas por onde a água passava: “O radônio estava para a água assim como o oxigênio para o ar”. Spas e centros de tratamento foram construídos para atender especialmente a idosos e doentes. Talhas e filtros continham minerais radioativos que “carregavam” a água com radioatividade. A justificativa para tal procedimento era que a água de consumo humano era “desnaturada” pela falta de um componente essencial a ela: a radioatividade, eliminada durante o tratamento da água.
A propaganda de um famoso produto desse tipo dizia: “Mais doenças são causadas pelo consumo de água imprópria, mais do que por qualquer outra razão, e basicamente porque a água para consumo perdeu toda a radioatividade original”. Assim, esses produtos pretendiam restaurar o “vigor natural da água pelo acréscimo do gás do vigor [radônio] ou do elemento do vigor [rádio], tão necessário quanto o oxigênio e o hidrogênio que constituem a água”. Os benefícios aclamados eram: aumento do número de hemácias, eliminação de venenos do sangue e uma melhor digestão dos alimentos.

“Radium Radia” (1905), água contendo radioatividade adicionada. Contudo, tratava-se de uma fraude. Reproduzido sob permissão de Oak Ridge Associated Universities, copyright ©1998
A beleza feminina foi um grande mercado para a radioatividade como exemplificado numa propaganda de um jornal de época, destinada às mulheres ávidas por beleza permanente. Em toda a linha de produtos – cremes, sabões, xampus, compressas, sais de banho... – garantia-se a presença de rádio autêntico e legítimo: “a maior ajuda da natureza para a beleza da mulher”. Esses produtos tinham a propriedade de “rejuvenescer e revitalizar a pele”. A propaganda do Radior garantia reembolso de US$ 5.000,00 para as consumidoras insatisfeitas com o produto.

Compressa radioativa “Cosmos Radioactive Pad” (1928). Reproduzido sob permissão de Oak Ridge Associated Universities, copyright ©1998
Nos anos 1920, foram muito comuns propagandas de compressas e almofadas radioativas destinadas ao tratamento de artrite, neurite, asma, bronquite, insônia...
Esses produtos ainda tinham a característica de permitir “que as propriedades curativas do rádio estejam ao alcance de todos” dado o baixo preço destes. Alguns fabricantes recomendavam que o produto fosse exposto ao sol por alguns minutos para “ativar suas propriedades terapêuticas”.

Supositório “Vita Radium” (ca. 1930), e suas propagandas associadas. Reproduzido sob permissão de Oak Ridge Associated Universities, copyright ©1998
A Tabela abaixo mostra outros exemplos de produtos com radioatividade adicionada.

Fonte:
Lima, R. S.; Pimentel, L. C. F.; Afonso, J. C. O Despertar da Radioatividade ao Alvorecer do Século XX. Química Nova na Escola, v. 33, nº 2, 2011.