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A Química da Pasta de Dente
Autor: Júlio Carlos Afonso

Este texto foi publicado originalmente na excelente página do Facebook "Química Analítica Qualitativa Inorgânica UFRJ" (https://www.facebook.com/QualitativaInorgUfrj/)

Química da pasta de dente

Até o início do século XIX, a escova de dente era normalmente usada apenas com água, mas misturas dentárias logo ganharam popularidade. A maioria destes eram de produção caseira, e os ingredientes mais comuns eram giz, tijolo pulverizado e sal. O creme dental (dentifrício) foi criado pelo dentista americano Washington Wentworth Sheffield, que em 1850 desenvolveu um pó para limpar os dentes que se tornou muito popular entre seus pacientes. Lucius, filho de Sheffield e também dentista, ajudou-o a modificar a fórmula, criando assim o Creme Dentifrício Dr. Sheffield, a primeira verdadeira pasta de dente. O produto, porém, só teve sucesso quando foi colocado em tubos de folhas-de-flandres, semelhantes aos tubos plásticos atuais.


Os dentifrícios fluoretados surgiram na década de 1940 (fluoreto de estanho(II), SnF2, fluoreto de sódio, NaF, monofluorfosfato de sódio, Na2(PO3)F, dentre outros). Já está comprovado que o fluoreto tem um importante papel na prevenção da cárie dentária, uma vez que a sua presença constante em baixa concentração, na placa e superfície dentária, reduz a desmineralização e aumenta a remineralização dos tecidos dentários. O uso de dentifrícios fluoretados é a forma mais amplamente difundida de autoadministração tópica de fluoretos no mundo.


Os agentes terapêuticos mais importantes para combater as cáries são os sais de flúor (e não apenas o flúor, como aparece em muitas embalagens). Esses componentes ajudam a deslocar o equilíbrio químico no sentido da mineralização da hidroxiapatita, Ca5(PO4)3OH. Os íons fluoreto (F-) têm a propriedade de substituir os íons hidroxila (OH-) na hidroxiapatita, transformando-a em fluorapatita (Ca5(PO4)3F), menos solúvel em água e menos suscetível ao ataque dos ácidos:


Ca5(PO4)3OH + F- → Ca5(PO4)3F + OH-


Contudo, a pasta de dente não é apenas flúor. Veja o que há em sua composição:


a) Lauril sulfato de sódio (n-C12H25SO3Na): responsável pela formação da espuma ao escovarmos os dentes, e possui ação detergente.
b) Carbonato de cálcio (CaCO3): substância abrasiva, age durante a escovação aumentando o atrito com os dentes. O contato promove a esfoliação da camada mais externa dos dentes eliminando a placa bacteriana.
c) NaHCO3: Hidrogenocarbonato de sódio. Ele é um antiácido e regula o pH do meio, é classificado como abrasivo suave.
d) Sorbitol - C6H8(OH)6: edulcorante, é responsável pelo sabor doce da nossa pasta dental. Às vezes, a sacarina é usada.
e) Flavorizantes: agentes responsáveis pelo sabor que promove um efeito refrescante. Existem também pastas sem sabor.
f) Água e álcool etílico: esses são os solventes responsáveis pela dissolução dos ingredientes, formando a pasta homogênea.
g) Glicerina: umectante, a pasta dentro do tubo não resseca em virtude da presença da glicerina, melhorando ainda a consistência do produto. Outras possibilidades são o sorbitol e o polietilenoglicol.
h) Aglutinantes: materiais sintéticos, tais como a carboximetil-celulose, impedem que as partes líquidas se separem das sólidas.
i) Outros agentes terapêuticos: usados para finalidades específicas, como bactericidas, antiácidos, remoção de manchas de cigarros, para dentes hipersensíveis (com nitrato de potássio (KNO3), ou citrato de sódio (C6H5O7Na3) ou cloreto de estrôncio (SrCl2).


Em particular, o agente dessensibilizante diminui o estímulo doloroso pelo bloqueio do neurotransmissor ou pela diminuição da reação hidrodinâmica. Os íons potássio têm um efeito despolarizante sobre a condução nervosa, tornando as fibras menos excitadas ao estímulo, eliminando a sensação de dor. Dentifrícios com sais de potássio têm mostrado bons resultados quando usados durante o período de tratamento clareador caseiro, na redução da sensibilidade provocada pelo tratamento.


Outro ponto se refere ao bactericida: o triclosan é um dos agentes antibacterianos mais comuns em produtos para uso bucal, devido ao seu grande espectro antibacteriano, à sua compatibilidade com ingredientes dos produtos e à sua segurança em relação à toxicidade. É importante a presença de zinco associado, uma vez que dentifrícios com triclosan somente não são tão efetivos em reduzir placa e gengivite em comparação aos convencionais.


Em seu uso comum, a pasta de dentes deve ser cuspida. Alguns tipos de pasta de dente, se engolidas em quantidade suficiente, podem causar náuseas, fluorose ou diarreia. Por isso é recomendado às crianças não utilizá-las sem a supervisão de adultos.


Referências:


https://manualdaquimica.uol.com.br/curiosidades-quimica/historia-composicao-quimica-creme-dental.htm
- Rev Gaúcha Odontol., Porto Alegre, v.59, n.4, p. 615-625, out./dez., 2011
- D C TONG, M R LEAPER, A N COLQUHOUN, A M RICH., An unusual presentation of oropharyngeal mucosal plasmacytosis related to toothpaste, The Journal of Laryngology & Otology (2008), 122, 1112–1114.
- S. S. Agrawal and R. S. Ray, Nicotine Contents in Some Commonly Used Toothpastes and Toothpowders: A Present Scenario, Hindawi Publishing Corporation, Journal of Toxicology, Volume 2012, Article ID 237506.

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